Central de Salazar
Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira
"A freguesia da Serra de Água, nesta Ilha da Madeira de primavera eterna e fresca, foi hoje palco e cenário de um dos mais notáveis acontecimentos insulares. A Serra de Água, bucólica e verde, parte laboriosa do concelho da Ribeira Brava, ridente a um sol a derramar-se por montanhas altaneiras e abismais, mas de vegetação opulenta e esmeraldina, apresenta-se, neste dia, de vestes brilhantes e pomposas, porque é de pompa e brilho a sua festa grande. E, como cunho solene, da mais honrosa distinção, tem a ventura de ver a inaugurar e a presidir o ato o Sr. Eng. José Frederico Ulrich, ministro muito ilustre das Obras Públicas que, mais uma vez, e por carinho e interesse por todos os problemas públicos, voou da capital até aqui porque a ele próprio agradaria intimamente a inauguração de uma obra a que votou especial devoção e muito do seu trabalho intenso.
A festa da Serra de Água é, afinal, outra grande festa da Madeira, das muitas que esta já possui com a marca, bem cunhada, de Salazar. Ainda há pouco (foi há um ano), com a inauguração da Levada do Norte, que irriga as terras da Ribeira Brava e de Câmara de Lobos, tivemos, também, festa grande por estas bandas. E, dentro de pouco, outra ainda - com a inauguração da Central Hidroelétrica e da Levada de irrigação da Calheta.
Neste momento, a Serra de Água oferece um aspeto de encanto e de entusiasmo jamais visto por estas paragens. À magia da paisagem juntou-se a alegria do povo - este povo trabalhador e honrado dos campos de Portugal, que é sempre igual no Minho, no Algarve ou nas ilhas do Atlântico. E à alegria do povo, o estralejar do foguetório, as palmas e os vivas da multidão, o colorido multiforme das ornamentações e o odor tão salutar das árvores e das plantas, dos pinheirais e das flores - e esta brisa que, com o sol, suave e brandamente, retoiça nas encostas e nos vales.
Se há um ano houve festa em louvor da água, hoje há festa em louvor da luz. Porque se trata de inaugurar a nova Central Hidroelétrica desta freguesia, completando-se assim a primeira fase das volumosas obras dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira.
Uns minutos mais apenas, e o Sr. Ministro das Obras Públicas porá em movimento as turbinas da Central e ligará o primeiro botão no quadro geral - simultâneo grito de alegria a ecoar, campos a baixo, por ruas e por casas, por vilas e povoações... até à cidade do Funchal. E consumar-se-á o milagre! E verificar-se-á que a Madeira alcançou, merecidamente, e a cabo de muitos anos, uma das suas mais altas aspirações: iluminação elétrica mais farta, mais perfeita e, certamente, mais económica.
Hoje mesmo - e é outra vez mais um instante - já a vila da Ribeira Brava se acenderá feericamente, em consequência desta obra. E, amanhã, num porvir pouco distante, outras vilas se iluminarão.
O novo sistema de produção cria-se para servir o público da Madeira, como todas as obras do Governo da Nação se criaram e criam para servir os portugueses.
E - hoje como sempre - não seremos, também, todos demais para continuar Portugal".
Serra de Água, 3 de Maio de 1953
Eduardo Nunes
Atualizado em 16/08/2019 18:00.